Em Genebra, durante uma madrugada no dia 16 de junho de 1816, o escritor Lord Byron encontrava-se entediado com alguns amigos hospedados num hotel. Então, nessa noite tempestuosa, Byron propôs algo para entreter todos os presentes: escrever uma história assustadora. O escritor e idealizador da atividade decidiu produzir um texto sobre um homem testemunha de um assassinato. Também no recinto, o autor Percy Shelley narrou relatos sobre sua infância. Enquanto isso, o médico John Polidori resolveu escrever uma história sobre uma mulher amaldiçoada com um rosto esquelético. Porém, de todos os textos ali, apenas o de uma garota de 18 anos de idade mudou os rumos da Literatura para sempre e se tornou uma obra-prima.
Naquela madrugada do dia 16 de junho de 1816, nascia “Frankenstein ou o Prometeu Moderno”, escrito por Mary Shelley.
O gênero Sci-Fi:
Frankenstein é considerado o primeiro livro de ficção científica (ou Sci-Fi) na história da literatura. Primeiramente, é necessária a definição de tal gênero. Segundo Rod Serling, criador da série The Twilight Zone, “ficção científica é o improvável tornado possível.” Assim, o gênero tem natureza especulativa, lidando com temas relacionados ao futuro, à tecnologia e à ciência.
A ficção científica busca estudar os impactos da ciência em uma determinada sociedade durante um determinado período, recorrendo a conceitos científicos para justificar os eventos narrados. Para além disso, o Sci-Fi consegue, cuidadosamente, ultrapassar fatos científicos de uma forma mais ficcional e imaginária.
Exemplificativamente, encontram-se os escritores Isaac Asimov e H. G. Wells como dois dos representantes do gênero. Eles foram, respectivamente, os criadores das obras “Eu, Robô” e “A Máquina do Tempo”.
Mary Shelley, uma escritora à frente do tempo:
Mary Wollstonecraft Shelley nasceu em Londres, no dia 30 de agosto 1797. Sua mãe, a escritora e ativista feminista Mary Wollstonecraft, faleceu após o nascimento da filha. Mesmo sem ter conhecido a mãe, a escrita de Mary Shelley foi fortemente influenciada pelos escritos deixados pela figura materna. Seu pai, o célebre filósofo William Godwin, financiava uma infância intelectual para a filha, já que possuía recursos financeiros na época.
Aos 16 anos, durante uma viagem à Escócia, Mary conheceu o poeta Percy Shelley, na época com 21 anos e casado. Os dois se apaixonaram e passaram a manter um relacionamento às escondidas até que o pai de Mary descobrisse e proibisse o romance de continuar existindo. Revoltados com a situação, Mary e Percy fogem, sendo acompanhados de Claire, a irmã da escritora. Eles se casam em 1816, após o suicídio da primeira esposa de Percy.
Nessa mesma época, o casal conhece Lord Byron durante uma viagem à Suíça. Desafiada pelo poeta, ela escreve a primeira versão de Frankenstein. Inclusive, especula-se que a obra tenha se baseado no relacionamento conturbado com o marido e o abandono do pai. Incentivada por Percy, ela decide continuar escrevendo a história e, em 1818, já possui a versão final em mãos. Contudo, o livro foi rejeitado por todas as editoras. Assim, Mary pediu para que o companheiro escrevesse o prefácio, para que, desse modo, a obra fosse publicada. Consequentemente, Percy passou um longo período recebendo todo o crédito pelo livro.
Ao mesmo tempo, o relacionamento do casal se tornava cada vez mais conturbado. A escritora teve quatro filhos, mas todos sofreram com morte prematura, exceto por Percy Florence. Entre 1818 e 1822, Mary viveu na Itália, até o trágico naufrágio do barco em que o marido se encontrava. Após a morte de Percy, a escritora e o filho se mudaram para a Inglaterra e ela decidiu se dedicar à carreira literária.
Mary Shelley faleceu em Londres, aos 53 anos, em decorrência de um tumor cerebral. A escritora se tornou extremamente reconhecida em vida e deixou um inesquecível legado literário.
A obra e o seu legado:
Frankenstein é uma história sobre um estudante suíço chamado Victor Frankenstein, que, após várias pesquisas, decide fazer uma criatura a partir de partes de cadáveres. A obra literária critica fortemente a ambição científica, uma vez que o personagem principal, após colocar um plano desmedido em prática, arrepende-se profundamente do feito e coloca a vida de todos que ama em perigo. Além disso, o livro trata de questões filosóficas e morais, levantando a seguinte pergunta: “Quem é o verdadeiro vilão: a criatura ou o criador?” Mesmo após 202 anos de publicação, o livro continua vivo, possuindo várias releituras, referências pop e adaptações do cinema. Vale salientar que Frankenstein, sendo o primeiro Sci-Fi da história literária, abriu as portas para as obras do mesmo gênero. Assim, após um simples desafio numa noite chuvosa, Mary Shelley e sua criatura se eternizaram na literatura mundial e ainda continuarão criando inúmeros pesadelos.
Por Aline Guimarães.
Bibliografia: CAPELHUCHNIK, L. Quem foi Mary Shelley. E cinco obras da criadora de Frankenstein. Jornal Nexo, 12 de jan. de 2019. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/01/12/Quem-foi-Mary-Shelley.-E-cinco-obras-da-criadora-de-%E2%80%98Frankenstein%E2%80%99>. Acesso em: 13 de ago. 2020. CIPRIANO, R. Frankenstein. O monstro de Mary Shelley nasceu há 200 anos. Observador, 15 de jun. 2016. Disponível em: <https://observador.pt/2016/06/15/frankenstein-o-monstro-de-mary-shelley-nasceu-ha-200-anos/>. Acesso em: 13 de ago. 2020. FERREIRA, C. V.; NESTAREZ, O. Criador e criatura: o poder de Mary Shelley e seu Frankenstein. Revista Galileu, 8 de mar. 2018. Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2018/03/criadora-e-criatura-o-poder-de-mary-shelley-e-seu-frankenstein.html>. Acesso em: 13 de ago. 2020. Ficção Científica. Cola da Web. Disponível em: <https://www.coladaweb.com/artes/ficcao-cientifica>. Acesso em: 13 de ago. 2020. GEARINI, V. Entre livros e o amor livre: A emocionante vida de Mary Shelley, a escritora do clássico Frankenstein. Aventuras na História, 3 de fev. de 2020. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/historia-mary-shelley-frankenstein.phtml>. Acesso em: 13 de ago. 2020. RAMOS, T. R. Mary Shelley. InfoEscola, 2015. Disponível em: <https://www.infoescola.com/escritores/mary-shelley/>. Acesso em: 13 de ago. 2020.
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