Autoria de Paloma Farias
Muito se fala da presença feminina em diversos ambientes, quando nos referimos a ciência, podemos discutir a temática a partir de uma foto simbólica de 1927, onde se registra 29 participantes de uma edição da Conferência de Solvay, em Bruxelas, na Bélgica. Estavam presentes grandes nomes da física e química, destes, cerca de 17 eram ou seriam premiados com o Prêmio Nobel, entre estes, estava Marie Curie, única mulher presente na foto entre 28 homens e a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel da Física e única pessoa até hoje a vencer em duas áreas distintas.
Quando se fala de mulheres na ciência, especificamente na física, o nome de referência citado, é o de Marie Curie, que tem grande destaque e influência na carreira de diversas meninas e mulheres que decidiram traçar caminhos parecidos. Pouco se fala de outras físicas, principalmente brasileiras, isso mostra como a representatividade feminina, por mais que exista, ainda se limita a apresentar outras mulheres que tiveram papéis fundamentais no desenvolvimento da ciência.
Vários ambientes, principalmente o científico, vem sendo ocupado por mulheres depois de bastante luta, na graduação pode ser que se tenha um número próximo de homens e mulheres, mas quando se fala da trajetória profissional, pouco se tem a presença de mulheres ocupando lugares nesses ambientes.
A falta de representação feminina e da desigualdade entre homens e mulheres, é discutida de maneira bem ampla, porém é bem mais marcada nas áreas STEM (sigla em inglês para Science, technology, engineering and mathematics), que se faz presente em países desenvolvidos e sub-desenvolvidos. Um dado do governo dos Estados Unidos em 2013, apresenta que por mais que 46% da força de trabalho no país seja ocupada por mulheres, apenas 27% ocupava os postos em ciência e engenharia e 12% no segmento exclusivo de engenharia. Isso enfatiza que ao decorrer dos anos, conquistas foram alcanças, avanços podem ser sinalizados, porém aponta também para os resquícios da desigualdade, as dificuldades para se inserir nestas áreas e ações patriarcais e machistas da sociedade para com as mulheres.
Numa perspectiva social, é importante focar nas atribuições dadas ao gênero feminino e de como esses marcadores sociais tem forte influência para a (des)construção de um estereótipo que dificulta a inserção de mulheres em áreas que foram projetas e pensadas para serem ocupadas pelo gênero masculino. As características de cuidado, fragilidade e de emoção, afasta as mulheres de um posto ao qual foi designado para pessoas fortes e racionais, marcando fortemente essa diferença social entre a binaridade de gênero.
A nível de Brasil, essa representação desigual das mulheres é um fenômeno em movimento que vem se alterando rapidamente na base da pirâmide educacional. De acordo com o censo escolar do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o número de mulheres que concluiu o Ensino Médio é ligeiramente superior ao de homens no período de 2000 a 2012. Nos cursos de graduação, levando-se em conta todas as carreiras, a predominância feminina é marcante em cursos como pedagogia, letras e ciências humanas, isso mostra um dado significativo para o número de mulheres concluintes, porém aponta a problemática da ausência ou pouca presença de mulheres em cursos predominantemente masculinos.
Algo a ser comentado é que por mais que se tenha uma número de mulheres nas áreas STEM, o crescimento exponencial não acontece quando se fala em progressão na carreira, ou seja, de dar continuidade na acadêmica, seja por meio das pós-graduações ou de ocupações profissionais, isso pode estar relacionado a vários fatores, um desses é a maternidade, que socialmente, as responsabilidades são atribuídas as mães, o que dificulta a sua progressão na carreira, uma vez que as oportunidades vão ficando ainda mais escassas.
Seguindo na vertente de progressão de carreira, a presença de mulheres nas áreas STEM cria uma falsa ilusão de que essas mulheres estão em cargos de poder. Os estereótipos de gênero são empecilhos para que meninas e mulheres avancem na carreira.
O teto de vidro (glass ceiling) é um fenômeno social que por meio dos estereótipos, família, sociedade, cultura, ..., dificulta o acesso de mulheres em posições de liderança, principalmente em altos níveis na hierarquia social. Os homens ainda são considerados mais brilhantes, inteligente e racionais, criando uma barreira que dificulta essa ascensão profissional das mulheres. Além desses, um outro fator que atravessa essa situação, são as questões internas que estão diretamente ligadas a autoestima intelectual feminina, consequência dessa sociedade machista, que faz com que as mulheres se sintam inferiores e incapazes de ocuparem lugares que também foram feitas para serem ocupadas por elas.
O teto de vidro mostra que demos alguns passos, mas que muitos outros precisam ser dados. A luta é contínua, e o número de mulheres nas áreas STEM que vem crescendo não anula o fato de que muitas mulheres não conseguem progredir na carreira por conta das barreiras invisíveis da sociedade.
Paloma Farias, 04/08/2024
Fontes:
https://www.repositorio.furg.br/handle/1/7886#:~:text=O%20teto%20de%20vidro%20(glass,altos%20n%C3%ADveis%20na%20hierarquia%20organizacional.
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